Arquivo de sistematização de conteúdos
Bibliografia da aula:
Leitura obrigatória:
ARRIGHI, Giovanni. O longo séc. XX. Rio de Janeiro: Contraponto; São Paulo: UNESP, 1996, pp. 163-246 (“Indústria, imperialismo e a ‘interminável’ acumulação de capital”).
Leitura complementar:
DUROSELLE, Jean-Baptiste; RENOUVIN, Pierre. Introdução à História das Relações Internacionais. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1967, pp. 222-257 (“Os nacionalismos”)
HOBSBAWM, Eric J. Nações e nacionalismo desde 1780. São Paulo: Paz e Terra, 2011, pp. 27-62 (“A nação como novidade: da revolução ao liberalismo”)
SMITH, Anthony D. La identidad nacional. Madrid: Trama, 1997, pp. 1-16 (“La identidad nacional y otras identidades”)
Materiais complementares:
Entrevista: “Benedict Anderson About Nationalism”, In mijn vaders huis, 1994.
Entrevista: “Prof. Dr. João Felipe Gonçalves – O Nacionalismo e a construção de símbolos nacionais”, Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, Universidade de São Paulo, 2019.
Aula: “Peter Demant – 1750-1914: A Revolução Industrial, a hegemonia britânica e o colonialismo”, História das Relações Internacionais I, Departamento de História, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2013.
Parte 1
Parte 2
Proposta de atividade:
Nesta aula, vimos de que maneira as identidades nacionais constituem construções históricas intimamente relacionadas aos processos de formação e consolidação dos Estados-nacionais. No século XIX, na vigência dos grandes impérios, o nacionalismo diz respeito aos reclames de coletividades que se reconheciam partícipes de uma mesma “comunidade de sentimentos” por compartilharem língua, religiosidade, tradições, origens (dadas em narrativas históricas), repertórios de cultura material e imaterial, eventualmente caracteres biotípicos e sua identificação com o entorno geográfico, a base material de sua existência. Com isso, pode-se afirmar que os levantes de parte dos súditos submetidos ao controle estrangeiro nos limites dos grandes impérios, reclamando por sua autodeterminação naquele dado território, constituem rebeliões nacionalistas. Mas, para contê-las, os mesmos grandes impérios, a fim de evitar a perda de parte de seu território e contingentes de súditos, adotaram estratégias de “nacionalismo oficial”, ou seja, um idioma oficial, uma religião oficial, uma história oficial e uma cultura exaltadora dos valores nacionais que definiram essas identidades conforme os propósitos políticos da autoridade imperial. De uma ou de outra maneira, ou seja, dos nacionalismos reivindicatórios aos nacionalismo oficiais, tratam-se de construções políticas e não de elementos constitutivos da natureza humana. A nação é, com isso, uma invenção com propósitos demarcados no tempo, no espaço e na tessitura de sociedades clivadas por relações de poder.
Com base nisso, podemos pensar o próprio processo de construção e reafirmação de uma identidade nacional brasileira, não apenas naquilo que ela inclui, ou seja, uma língua oficial (dada pela gramática culta ensinada nas escolas), uma identidade plasmada nas morais dadas pelo catolicismo colonial (apesar de postulado um Estado laico), em narrativas históricas que definem heróis nacionais e seus grandes feitos, dos quais seríamos todos tributários (como mártires, teriam morrido para que nascêssemos numa pátria livre) e uma cultura dominante que, discursivamente, afirma uma condição perenemente festiva e pacífica, ordeira e gentil, de um espírito acolhedor e igualmente servil (sobretudo com o estrangeiro que provém de realidades de capitalismo desenvolvido). É o que podemos inferir de uma série de suportes representacionais, da iconografia à textualidade que se prestou a definir uma “identidade brasileira”. Mas, retomando, é necessário pensar, sobretudo, o que essas sistematizações excluem na diversidade linguística que informa um mosaico de culturas diversas para o gigantismo de um território continental onde distintos complexos culturais transitam na subalternidade que lhe impõe uma “cultura oficial”; a diversidade de cosmovisões mágico-religiosas vilipendiada pela violência que acomete o “povo de terreiro”, herdeiros das práticas mágico-religiosas transportadas desde a África, em tétricos navios-negreiros, para o flagelo do trabalho escravo, hoje fustigadas pelo fundamentalismo neopentecostal por identificar deidades relacionadas ao povo preto, pobre e à margem do progresso; bem como de uma “história vista de baixo” que grita as muitas vozes silenciadas pelas narrativas oficiais, trazendo à tona um passado de lutas e resistências aos poderes estabelecidos e comprometidos com estruturas de opressão, denunciando a condição de uma sociedade fundada em violências que não foram ainda demovidas das sociabilidades que aqui vigoram. Há, por exemplo, padrões recorrenciais, em itens diversos como nas propagandas de consumo de massa, que informam um padrão branco, masculino, heteronormativo e ladeado por bens que aludem a prosperidade material, reafirmando dominâncias e ocultando-se subalternidades, em uma sociedade cujos poderes estabelecidos dizem “harmônica” e “pacífica”.
Dito isso, vejamos então como em campanhas publicitárias (anúncios de bebidas, itens de indumentária e bens de consumo os mais diversos) é referida uma “identidade brasileira”, reafirmando ou reconstruindo o ideário de nação plasmado no nosso século XIX e “em movimento” desde então.
Escolha um anúncio publicitário no suporte que desejar (imagem, texto ou vídeo), poste o anúncio (com o “link” para acesso ao material, se for o caso) e analise-o tentando identificar a “identidade brasileira” que ali é afirmada, procedendo a crítica necessária a esta construção, desde uma perspectiva histórica.
Em seguida, veja os materiais postados pelos colegas e dê sua contribuição às reflexões por eles elaboradas.
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“A história me precede e se antecipa à minha reflexão. Pertenço à história antes de pertencer a mim mesmo”.
RICOEUR, Paul. Interpretação e ideologias. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora S.A., 1977, p. 39.