Saudações acadêmicas!
Sejam todas e todos bem-vindos ao curso de "História das Relações Internacionais", iniciado por meio remoto aos 17 de agosto de 2020 no Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo.
Sobre essa iniciativa, cabe um breve esclarecimento.
Trata-se de atividade elaborada durante o período de isolamento social decorrente da pandemia mundial de Covid-19, seguindo as deliberações do Conselho Universitário da UNIFESP que referendou a oferta de Unidades Curriculares na modalidade de Atividades Domiciliares Especiais, de forma com isso não-presencial e em caráter excepcional (conforme Portaria PROGRAD Nº 1474/2020 e Instrução Normativa PROGRAD Nº 1/2020).
Seguindo deliberação departamental, as aulas foram gravadas e disponibilizadas no YOUTUBE, junto de uma série de outros conteúdos em distintas plataformas, como arquivos de apresentação em "Power Point" contendo sistematizações de conteúdo (excertos, gráficos, tabelas, mapas mentais etc.) para estudo e uma série de outros materiais complementares (vídeo, áudio, imagens etc.), bem como propostos fóruns para discussão dos materiais e conteúdos estudados.
Para cada aula foi indicado um texto a ser lido, antecipadamente, a fim de subsidiar as conseguintes reflexões, como "pontos de partida", em atividades síncronas.
O entendimento deste docente, no entanto, é o que segue:
Por compreender o imperativo do ensino presencial e os severos limites dos inadequados meios remotos, cioso ainda do ensino de excelência que almejamos, é preciso afirmar a impossibilidade de conversão das dinâmicas presenciais de ensino-aprendizagem em utensilagem informática. A erudição dos gigantes que nos antecederam não cabe nas sínteses que os ambientes internéticos impõem, decompondo cabedais de conhecimento e pretendendo a redução das complexidades do mundo a padrões explicativos de simplismo genérico que, além de subestimar a capacidade compreensiva comum à cognição humana, beiram a anti-ciência.
A forma dialógica como edificamos saberes coletivos, pensando criticamente os nossos objetos de estudo, revisando elementos de teoria, repertórios conceituais e a constituição da própria realidade, privilegiando a autonomia dos saberes e a emancipação daqueles e daquelas alijados das estruturas de poder, só pode e deve ser feita de forma presencial. Não há outra possibilidade de humanizar o olhar, de construir alteridade e de dar sentido às teorias por meio das vivências sem que estejamos, presencialmente, nos labores do saber, encarnados no mundo real onde as contradições se apresentam em suas formas concretas. É em sala de aula, laboratórios e incursões de campo que se constroem saberes que ganham relevância nas demandas sociais.
Por fim, é presencialmente que o caráter indissociável da tríade ensino-pesquisa-extensão se faz possível, demovendo o docente do papel que lhe é imposto, por aqueles que exploram a educação como mercadoria, de mero "dador de aulas", reprodutor de conteúdos e a quem são tolhidos os meios necessários para construí-los em perspectiva crítica. O conteudismo, o caráter expositivo e o tom discursivo (e os vídeos aqui dispostos não logram escapar desta condição!) são meios há muito superados por uma educação encarnada na tarefa da transformação da realidade social; são formas servis às permanências que permitem ao processo de mercantilização da educação e hiperexploração do trabalho docente avançar mais uma fronteira, pretendendo a privatização do ensino superior público, convertendo um direito social em bem de consumo, rebaixados os seus conteúdos a fim de que caibam em atraentes embalagens e sejam postos a circular na lógica do consumo de massa.
Por isso é importante frisar: não são esses os meios educacionais válidos e nada substitui o ensino presencial.
Esta iniciativa, de disponibilizar a todas e todos os materiais elaborados ao tempo em que esses meios foram disciplinados por soberanos colegiados superiores, frente aos imperativos de uma condição absolutamente adversa, tem o propósito de socializá-los o máximo possível, estimulando o interesse pela ciência histórica e estabelecendo diálogos com aqueles a quem interessam os mesmos temas, do estudantado aos pares docentes, em distintas esferas de atuação.
Saudações acadêmicas!
Rodrigo Medina Zagni
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS I
[Da transição feudal-capitalista à Crise do Antigo Regime]
Ementa:
Parte 1. Os fundamentos teóricos: A historiografia das Relações Internacionais; O debate historiográfico sobre a gênese do sistema mundial. Parte 2. A gênese do capitalismo histórico: A transição feudal-capitalista; A Civilização do Renascimento; As quatro grandes cidades-estados do Renascimento Italiano. Parte 3. A Era do Mercantilismo: A política econômica mercantilista; O Absolutismo e a natureza social dos Estados Modernos; Expansão ultramarina e colonização; A Europa do séc. XVII, a Guerra dos Trinta Anos e a Ordem Internacional de Vestefália. Parte 4. O colapso do Antigo Regime: A Revolução Inglesa; A Guerra de Sucessão Espanhola e o Tratado de Utrecht; A crise do Antigo Sistema Colonial e do Antigo Regime; A independência dos Estados Unidos.
Objetivos:
Objetivo Geral: Possibilitar ao estudante, a partir de leituras, análise crítica das fontes, discussões e produções textuais, o desenvolvimento de uma compreensão histórica acerca das transformações internacionais operadas no período moderno e nos primeiros ensaios da contemporaneidade. Com isso, temos um recorte cronológico que se inicia no séc. XV, com a transição entre feudalismo e mercantilismo, a expansão ultramarina e o empreendimento colonizador, até o séc. XVIII, com o avanço das ideias liberais a partir da Europa e as primeiras revoluções de caráter democrático-burguesas. Enfocaremos, neste período, a consolidação do moderno sistema de Estados, o desenvolvimento e a consolidação do capitalismo histórico e a articulação, nas relações internacionais, entre uma gama variada de atores.
Objetivo Específico: Discutir os contornos epistemológicos da disciplina, suas principais correntes teóricas e discussões historiográficas; avaliar o desenvolvimento das relações internacionais do final do século XV ao final do século XVIII, dando ênfase à gênese do capitalismo histórico, à consolidação do moderno sistema de Estados, à constituição de uma Era do Mercantilismo e ao processo de colapso do Antigo Regime.
AULA - A historiografia das Relações Internacionais
A História Diplomática e o conceito de “forças profundas”
A Escola Francesa de Renouvin & Durroselle
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AULA - O debate historiográfico sobre a gênese do moderno sistema mundial
O moderno sistema mundial
Os ciclos hegemônicos do capitalismo histórico
O capitalismo histórico e o moderno sistema de Estados
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AULA - A transição feudal-capitalista
O fim do sistema feudal e a gênese do mundo capitalista
O debate historiográfico sobre a transição entre feudalismo e capitalismo
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AULA - A civilização do Renascimento
A superação do interlúdio medieval e o reencontro com a Antiguidade Clássica
Religião e secularização da vida e das relações interestatais
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AULA - As quatro grandes cidades-estados do Renascimento Italiano
Um enclave capitalista anômalo ou o “ponto zero” do capitalismo histórico
O desenvolvimento do capital e as cidades
O desenvolvimento das cidades e o fortalecimento do Estado
As disputas interempresariais e interestatais
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AULA - A política econômica do Mercantilismo
O sistema mercantil e pulsões modernizadoras dos Estados
A acumulação do capital, manufaturas e a exportação do excedente colonial
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AULA - O Absolutismo e a natureza social dos Estados Modernos
As linhagens do Estado Absolutista
As teorias sobre a natureza social do Estado Moderno
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AULA - Expansão ultramarina e colonização
A expansão ultramarina dos séculos XV ao XVII
As potências ibéricas X a hegemonia holandesa
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AULA - A Europa do séc. XVII, a Guerra dos Trinta Anos e a Ordem Internacional de Vestefália
A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)
O controle Habsburgo sobre a Europa Os atores estatais antes e durante a guerra
O Tratado de Vestefália (1648)
A nova ordem internacional e o moderno sistema de Estados
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AULA - A Revolução Inglesa
A Dinastia Stuart e o absolutismo inglês
A guerra civil da década de 1640
A Revolução Puritana
A volta dos Stuarts e a Revolução Gloriosa
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AULA - A Guerra de Sucessão Espanhola e o Tratado de Utrecht
A Guerra de Sucessão Espanhola
O Tratado de Utrecht
Dos Estados Régios aos Estados Territoriais
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AULA - A crise do Antigo Sistema Colonial e do Antigo Regime
A crise no sistema colonial em fins do séc. XVIII
O pensamento econômico liberal
O sistema Atlântico e as alianças em torno de Inglaterra e França
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HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS II
[Das revoluções democrático-burguesas à mundialização do capital]
Ementa:
Parte 1. A dupla revolução: A Revolução Francesa e o Império Napoleônico (1789-1815); A Revolução Industrial e a internacionalização do capitalismo (1760-1840). Parte 2. Nações e nacionalismos: A Pax Britânica e os nacionalismos nas relações internacionais do séc. XIX (1815-1871); O Concerto Europeu: Restauração e Revolução (1815-1848); As Revoluções de 1848, o internacionalismo socialista e o movimento operário na Europa (1848-1875). Parte 3. Imperialismo e nacionalismos tardios: As unificações tardias de Alemanha e Itália, a Guerra Franco-Prussiana e a Comuna de Paris (1870-1871); Imperialismo e lutas anticoloniais (1875-1914). Parte 4. As longas guerras eurasianas: O colapso do Equilíbrio Europeu e a Primeira Guerra Mundial (1914-1918); A Revolução Russa de 1917 (1905-1917); O Entre Guerras: a Ordem Internacional de Versalhes e o declínio da Liga das Nações (1919-1939); A Grande Depressão (1929-1933); A ascensão dos Fascismos (1933-1939); A Segunda Guerra Mundial e as Organizações Internacionais do Pós-Guerra (1939-1945). Parte 5. Exterminismo e Guerra Fria: A Coexistência pacífica (1953-1962) e a Détente (1962-1979); Da "Segunda" Guerra Fria (1979-1985) ao Colapso do regime soviético e o fim do socialismo real (1985-1991). Parte 6. A internacional capitalista: O Consenso de Washington e o processo de mundialização do capital (1990-2000).
Objetivos:
Objetivo Geral: possibilitar ao estudante, a partir de leituras e análise crítica das fontes, discussões e produções textuais, uma compreensão histórica acerca das transformações internacionais operadas no período contemporâneo. Com isso, temos um recorte cronológico que se inicia no final do séc. XVIII, com as revoluções democrático-burguesas, e se estende até o séc. XX, com o processo de mundialização do capital a partir do qual enfocaremos a transição de um ciclo hegemônico britânico, no sistema-mundo capitalista, para um ciclo norte-americano, investigando as transformações operadas no capitalismo global. Com isso, a disciplina enfoca o estudo do desenvolvimento histórico das relações internacionais da dupla revolução (econômica e política) do séc. XVIII (e que se consolida no séc. XIX), fundante da contemporaneidade; as duas guerras mundiais e o meio século de Guerra Fria. Iremos ainda adiante, verificando que tipo de ordenamento internacional emergiu com o fim de um sistema bipolar, quando assentadas as teses do neoliberalismo e proclamado o “fim da História”. Com isso, trataremos criticamente de processos fundamentais na edificação da realidade contemporânea, etapa imprescindível para a compreensão do tempo presente.
Objetivo Específico: avaliar o desenvolvimento das relações internacionais na era contemporânea (de fins do séc. XVIII aos dilemas de um passado imediato), das revoluções liberais à consolidação de um capitalismo “verdadeiramente existente” e o processo de mundialização do capital.
AULA - A Revolução Francesa e o Império Napoleônico (1789-1815)
A “mãe” de todas as revoluções democrático-burguesas
O Império Francês e as Guerras Napoleônicas
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AULA - A Revolução Industrial e a internacionalização do capitalismo
A consolidação do mundo industrial
O agigantamento da burguesia e o adensamento do proletariado urbano
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AULA - A Pax Britânica e os nacionalismo nas relações internacionais do século XIX
O ciclo hegemônico britânico e a centralidade da economia industrial
A invenção das nações e o espírito nacional
Comunidades imaginadas e nacionalismos oficiais
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AULA - O concerto europeu: restauração e revolução
O fim do Império Napoleônico e o Congresso de Viena (1815)
A Santa Aliança (1815-1848)
Os movimentos nacionalistas na Europa e a dissolução dos grandes impérios
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AULA - As revoluções de 1848, o internacionalismo socialista e o movimento operário na Europa
As Revoluções de 1848: a Primavera dos Povos na Europa
O novo equilíbrio de poder europeu
A organização dos trabalhadores no séc. XIX
O advento do socialismo científico e as lutas políticas da classe trabalhadora
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AULA - As unificações tardias de Alemanha e Itália, a Guerra Franco-Prussiana e a Comuna de Paris
As últimas unificações nacionais do séc. XIX
A unificação alemã e a Comuna de Paris
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AULA - Imperialismo e lutas anticoloniais
O debate teórico-conceitual acerca do imperialismo
A divisão política do mundo e a nova divisão internacional do trabalho
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AULA - O colapso do equilíbrio europeu e a Primeira Guerra Mundial
Origens e consequências da Grande Guerra
O início de uma era de catástrofes
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AULA - O entre guerras
A Ordem Internacional de Versalhes e o declínio da Liga das Nações (1919-1939)
A Grande Depressão (1929-1933)
A ascensão dos Fascismos (1933-1939)
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AULA - A Segunda Guerra Mundial e as organizações internacionais do pós-guerra
Origens e consequências da Segunda Grande Guerra
A redefinição do equilíbrio de poder europeu e da hegemonia mundial
As organizações internacionais do pós-guerra
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AULA - A Coexistência Pacífica e a Détente
O mundo bipolarizado
A corrida armamentista
A proliferação de armas nucleares
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AULA - A Segunda Guerra Fria, o colapso do regime soviético e o fim do socialismo real
Possibilidades de destruição civilizacional
O projeto “Guerra nas Estrelas”
O colapso soviético e o fim da Guerra Fria
A reunificação da Alemanha
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“A história me precede e se antecipa à minha reflexão. Pertenço à história antes de pertencer a mim mesmo”.
RICOEUR, Paul. Interpretação e ideologias. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora S.A., 1977, p. 39.