Arquivo de sistematização de conteúdos
Bibliografia da aula:
Leitura obrigatória:
NOVAIS, Fernando. Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808). São Paulo: Hucitec, 1979, pp. 32-56 (“Concorrência colonial e tensões internacionais”)
Leitura complementar:
BRAUDEL, Fernand. Civilização material, economia e capitalismo: séculos XV-XVIII – O tempo do mundo. São Paulo: Martins Fontes, 2009, pp. 359-397 (“As Américas ou a aposta das apostas”)
LOVE, Ronald S. Maritime exploration in the age of discovery – 1415-1800. Westport; London: Greenwood Press, 2006, pp. 9-54 (“Portugal and the search for a sea route to Asia”; “Spain and the discovery of a new world”)
MOUSNIER, Roland. Os séculos XVI e XVII: Os progressos da Civilização Europeia. História Geral das Civilizações. Tomo IV, 2o v. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1957, pp. 9-20 (“O contacto da Europa com o mundo”)
Material complementar:
Vídeos:
Aula: “Portugal e Brasil: antigo sistema colonial”; Fernando Novais, curso de pós-graduação em Geografia, Cidade e Arquitetura, Escola da Cidade, fev. 2016.
Aula: “A expansão comercial europeia e o continente americano”, João Paulo Garrido Pimenta, História do Brasil Colonial I, Departamento de História da Universidade de São Paulo, Univesp TV, abr. 2014.
Parte 1
Parte 2
Documentário: “The Great Age of Exploration - 1400 1550”, Discovery Education Documentary, 1998.
Proposta de atividade:
Este Forum tem o objetivo de fomentar o debate sobre o colonialismo das potências ibéricas a partir de poemas de Augusto dos Anjos, que representam, com linguagem característica do movimento simbolista, práticas brutais de exploração da força de trabalho escrava. O poema “A Obsessão do Sangue” enfoca a temática do exterminismo como prática “comum” do colonialismo; a obra “A um epilético” versa sobre a intensidade do trabalho escravo, como força produtiva, nos alambiques e "casas de purgar"; o trecho IV de “Os Doentes” trata do relacionamento entre o poder metropolitano e os povos originários; por último, “Contrastes” retoma o espírito de “vaidades” na menção a Eclesiastes com considerações sobre a dinâmica entre “um hemisfério e outro”, no contato de "dois mundos" (metrópole & colônia).
O estudante deverá gravar (com sua webcam, smartphone ou análogo), em vídeo e áudio, sua versão recitativa (o quão mais dramatizada possível), do trecho ou da totalidade do poema que escolher. Depois de gravado, o vídeo deverá ser enviado para o Google Drive e postado o link aqui no Forum.
O propósito é o de editarmos, posteriormente, os fragmentos para que tenhamos a totalidade dos poemas em diversas vozes e imagens.
Abusem da criatividade!
A obsessão do sangue (1914) - Augusto dos Anjos
Acordou, vendo sangue...
— Horrível!
O osso Frontal em fogo... Ia talvez morrer,
Disse. olhou-se no espelho.
Era tão moço,
Ah! certamente não podia ser!
Levantou-se.
E eis que viu, antes do almoço,
Na mão dos açougueiros, a escorrer Fita rubra de sangue muito grosso,
A carne que ele havia de comer!
No inferno da visão alucinada,
Viu montanhas de sangue enchendo a estrada,
Viu vísceras vermelhas pelo chão ...
E amou, com um berro bárbaro de gozo, o monocromatismo monstruoso
Daquela universal vermelhidão!
Fonte: http://www.jornaldepoesia.jor.br/augusto02.html#sangue (Acesso em 11/04/2017)
Referência bibliográfica: DOS ANJOS, Augusto. GULLAR, Ferreira. Toda a poesia. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1976.
A um epilético (1914) - Augusto dos Anjos
Perguntarás quem sou?! — ao suor que te unta,
À dor que os queixos te arrebenta, aos trismos
Da epilepsia horrenda, e nos abismos
Ninguém responderá tua pergunta!
Reclamada por negros magnetismos
Sua cabeça há de cair, defunta
Na aterradora operação conjunta
Da tarefa animal dos organismos!
as após o antropófago alambique
Em que é mister todo o teu corpo fique
Reduzido a excreções de sânie e lodo,
Como a luz que arde, virgem, num monturo,
Tu hás de entrar completamente puro
Para a circulação do Grande Todo!
Fonte: http://www.jornaldepoesia.jor.br/augusto02.html#epiletico (Acesso: 11/04/2017)
Referência bibliográfica: DOS ANJOS, Augusto. GULLAR, Ferreira. Toda a poesia. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1976.
Os doentes (1914) - Augusto dos Anjos
IV
Começara a chover.
Pelas algentes
Ruas, a água, em cachoeiras desobstruídas,
Encharcava os buracos das feridas,
Alagava a medula dos Doentes!
Do fundo do meu trágico destino,
Onde a Resignação os braços cruza,
Saía, com o vexame de uma fusa,
A mágoa gaguejada de um cretino.
Aquele ruído obscuro de gagueira
Que à noite, em sonhos mórbidos, me acorda.
Vinha da vibração bruta da corda
Mais recôndita da alma brasileira!
Aturdia-me a tétrica miragem
De que, naquele instante, no Amazonas,
Fedia, entregue a vísceras glutonas,
A carcaça esquecida de um selvagem.
A civilização entrou na taba Em que ele estava.
O gênio de Colombo Manchou de opróbrios a alma do mazombo,
Cuspiu na cova do morubixaba!
E o índio, por fim, adstricto à étnica escória,
Recebeu, tendo o horror no rosto impresso,
Esse achincalhamento do progresso
Que o anulava na crítica da História!
Como quem analisa um. apostema,
De repente, acordando na desgraça,
Viu toda a podridão de sua raça...
Na tumba de Iracema! ...
Ah! Tudo, como um lúgubre ciclone,
Exercia sobre ele ação funesta
Desde o desbravamento da floresta
A ultrajante invenção do telefone.
E sentia-se pior que um vagabundo
Microcéfalo vil que a espécie encerra
Desterrado na sua própria terra,
Diminuído na crônica do mundo!
A hereditariedade dessa pecha
Seguiria seus filhos.
Dora em deante
Seu povo tombaria agonizante
Na luta da espingarda com a flecha!
Veio-lhe então como à fêmea vem antojos,
Uma desesperada ânsia improfícua
De estrangular aquela gente iníqua,
Que progredia sobre os seus despojos!
Mas, deante a xantocróide raça loura,
Jazem, caladas, todas as inúbias,
E agora, sem difíceis nuanças dúbias,
Com uma clarividência aterradora,
Em vez da prisca tribo e indiana tropa
A gente deste século, espantada,
Vê somente a caveira abandonada
De uma raça esmagada pela Europa!
Fonte: http://www.jornaldepoesia.jor.br/augusto11.html#doentes (Acesso em: 11/04/2017)
Referência bibliográfica: DOS ANJOS, Augusto. GULLAR, Ferreira. Toda a poesia. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1976.
Contrastes (1914) - Augusto dos Anjos
A antítese do novo e do obsoleto,
O Amor e a Paz, o ódio e a Carnificina,
O que o homem ama e o que o homem abomina,
Tudo convém para o homem ser completo!
O ângulo obtuso, pois, e o ângulo reto,
Uma feição humana e outra divina
São como a eximenina e a endimenina
Que servem ambas para o mesmo feto!
Eu sei tudo isto mais do que o Eclesiastes!
Por justaposição destes contrastes, junta-se um hemisfério a outro hemisfério,
As alegrias juntam-se as tristezas,
E o carpinteiro que fabrica as mesas
Faz também os caixões do cemitério!...
Fonte: http://www.jornaldepoesia.jor.br/augusto05.html#contrastes (Acesso: 11/04/2017)
Referência bibliográfica: DOS ANJOS, Augusto. GULLAR, Ferreira. Toda a poesia. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1976.
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“A história me precede e se antecipa à minha reflexão. Pertenço à história antes de pertencer a mim mesmo”.
RICOEUR, Paul. Interpretação e ideologias. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora S.A., 1977, p. 39.